Era um mar imenso de verde. Um verde de perder de vista, de doer a vista, de infinita solidão. Ao fim daquele verde surgia o azul ... como terra prometida, esperança... Um Deus pagão.
Era uma escola branca de uma única divisão, fechada entre muros, sem portada, com um pequeno recreio assustado de tanta terra em redor, sem moradias ou moradores por perto...
Era um Alentejo plano, ainda quente do pós vinte cinco de Abril e de costumes estranhos para uma menina - professora vinda das Beiras, livre dos ressentimento cravado nas veias contra os donos das terras e as rezas do Norte.
(...)
Um dia recebi ordem para queimar imensos livros ...
Um dia os pequenos, para colaborar com a aula de Meio Físico e Social, carregaram uma dúzia de cobras em sacos e latas, para dentro da sala de aulas ...
(...) eram de montes diversos, de pais diversos, de mães adolescentes ... no recreio brincava com eles para não bulharem ou partirem a cabeça. Naquele dia aconteceu: Jaime sangrava abundantemente da testa... o Marcelo, de olhar enraivecido, prometia mais ... e eu ali, sózinha, sem saber o que fazer.
(...)
Em Monte Novo de Palma, naquela altura, não havia luz e, telefone, só na única mercearia- cooperativa existente no povoado.Estrada? ... a estrada de terra batida ia, a bem dizer, a lado nenhum.
O comboio era o assobio do acordar, do adormecer... a ligação ao demais Portugal.