Era um mar imenso de verde. Um verde de perder de vista, de doer a vista, de infinita solidão. Ao fim daquele verde surgia o azul ... como terra prometida, esperança... Um Deus pagão.
Era uma escola branca de uma única divisão, fechada entre muros, sem portada, com um pequeno recreio assustado de tanta terra em redor, sem moradias ou moradores por perto...
Era um Alentejo plano, ainda quente do pós vinte cinco de Abril e de costumes estranhos para uma menina - professora vinda das Beiras, livre dos ressentimento cravado nas veias contra os donos das terras e as rezas do Norte.
(...)
Um dia recebi ordem para queimar imensos livros ...
Um dia os pequenos, para colaborar com a aula de Meio Físico e Social, carregaram uma dúzia de cobras em sacos e latas, para dentro da sala de aulas ...
(...) eram de montes diversos, de pais diversos, de mães adolescentes ... no recreio brincava com eles para não bulharem ou partirem a cabeça. Naquele dia aconteceu: Jaime sangrava abundantemente da testa... o Marcelo, de olhar enraivecido, prometia mais ... e eu ali, sózinha, sem saber o que fazer.
(...)
Em Monte Novo de Palma, naquela altura, não havia luz e, telefone, só na única mercearia- cooperativa existente no povoado.Estrada? ... a estrada de terra batida ia, a bem dizer, a lado nenhum.
O comboio era o assobio do acordar, do adormecer... a ligação ao demais Portugal.
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
Professora: percursos na memória
Ainda não comecei a escrever e já me arrependo - é difícil escrever as coisas da memória, principalmente para quem vê o passado com sons, cheiros e cores: o cheiro acre do despertar dos campos e dos rebanhos, o vermelho lustroso das cerejas à beira da escola, os risos dos miúdos,...
Eu sabia que ia mudar o mundo, que todos os sacrificios valiam a pena a favor daquelas crianças. Qual terra prometia e terras estrangeiras a grangear bens! Aqui e agora ... num aprender de letras nas coisas serra.
Qual quê!!... Passaram, num estalar de dedos, vinte e cinco anos e o mundo mudou. A Escola também mudou (pouco!?) sem ligar nenhuma aos meus murros em ponta de faca. Mas, cá estou eu, ainda professora, ainda crente de que ensinar é também ajudar a ser feliz.
Eu sabia que ia mudar o mundo, que todos os sacrificios valiam a pena a favor daquelas crianças. Qual terra prometia e terras estrangeiras a grangear bens! Aqui e agora ... num aprender de letras nas coisas serra.
Qual quê!!... Passaram, num estalar de dedos, vinte e cinco anos e o mundo mudou. A Escola também mudou (pouco!?) sem ligar nenhuma aos meus murros em ponta de faca. Mas, cá estou eu, ainda professora, ainda crente de que ensinar é também ajudar a ser feliz.
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